Após abrir quatro hotéis este ano em Portugal, totalizando investimentos de 50 milhões de euros, o grupo Vila Galé tem em carteira mais projetos para Elvas, Évora, Ponte de Lima, Miranda do Douro e Vila Viçosa

Um hotel para crianças (Nep Kids), onde foram investidos €13 milhões, foi este fim-de-semana inaugurado pelo grupo Vila Galé, a par de um hotel para adultos (Monte do Vilar), ambos na herdade em Beja onde se insere o resort Alentejo Vineyard D.R.

Foram projetos “muito sofridos”, segundo a administração da Vila Galé, mas a empresa conseguiu inaugurar este fim-de-semana dois hotéis em simultâneo no Alentejo – o Nep Kids, dirigido ao segmento de crianças, e o Monte Vilar, só para adultos – que se somam a mais duas unidades abertas este ano pelo grupo, em Tomar e nos Açores, totalizando no seu conjunto investimentos de cerca de 50 milhões de euros.

“Os preços dispararam todos na construção, os custos estão descontrolados”, frisou Jorge Rebelo de Almeida, presidente do grupo, num encontro com a imprensa, considerando que “este país está outra vez numa fase mais difícil, e não o podemos deixar descambar”. As dificuldades são sentidas pelo grupo também ao nível dos “licenciamentos”, resultando em “finais de obra cada vez mais complexos, nas mais pequenas coisas”.

Ainda assim, a Vila Galé tem em carteira uma série de novos projetos para Portugal, num total de seis, que se encontram em diferentes fases, mas na perspetiva de poder, em alguns casos, avançar já com a construção para conseguir as respetivas aberturas no próximo ano.

Confirmados estão já os projetos para a Vila Galé poder desenvolver hotéis em Miranda do Douro, além das Casas de Elvas, ou o Paço do Curutêlo, em Ponte de Lima. Jorge Rebelo de Almeida sublinhou a “paixão” por desenvolver projetos no interior do país, reabilitando património histórico, com o objetivo de “conservar o que o país tem de melhor”.

A Vila Galé também está a analisar um projeto em Vila Viçosa, e no Convento de São José, em Évora, “que está em ruínas, e queremos muito ir a este concurso”. Entre “mais coisas que estão na lista” para análise do grupo, Jorge Rebelo de Almeida destacou o projeto para desenvolver um hotel no Paço Real de Caxias, projeto que se mantém em compasso de espera não por vontade do grupo, mas “por responsabilidade do secretário de Estado da Defesa”, tendo este edifício patrimonial já sido alvo de concessão no âmbito do programa Revive, o que acabou por ser revogado por ter apanhado os tempos da pandemia de covid.

“E vamos entrar em Cuba já em setembro, com um hotel com 638 quartos e seis restaurantes, em Cayo Paredón, e também nos preparamos para entrar em Espanha”, destacou o presidente da Vila Galé.

Em Cuba, o grupo português ganhou um concurso lançado pelo governo cubano para gerir duas unidades, o que também inclui um hotel em Havana. Já em relação à entrada em Espanha, a Vila Galé adiantou que irá avançar com informações mais detalhadas dentro de um mês.

“CORREMOS O RISCO DE VOLTAR A TER BARRACAS EM PORTUGAL”

No Alentejo, o recém-inaugurado Vila Galé Nep Kids envolveu investimentos de 13 milhões de euros, numa proposta inédita de criar um hotel construído de raiz a pensar no público infantil, onde os adultos só podem entrar acompanhados de crianças.

“Este hotel já tem aprovada uma segunda fase, com mais 64 apartamentos, que é expectável que avance no próximo ano, se este primeiro correr bem, como verificamos estar a acontecer”, referiu Jorge Rebelo de Almeida.

Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé, exorta o Governo a fazer rapidamente mais habitação social “com estes imigrantes todos que estão a chegar, nepaleses ou indianos, que não tendo casa, começarão a arranjar soluções, e já não vivemos no tempo dos bidonvilles” Ana Baião

O grupo inaugurou também o hotel Monte Vilar, na mesma herdade no concelho de Beja, com 1620 hectares, onde há 22 anos a Vila Galé abriu o turismo rural hoje designado Alentejo Vineyards, contando ao seu redor com uma adega para produção de vinhos da Casa Santa Vitória, também usada como espaço de enoturismo, um lagar para produção de azeite, além da produção de fruta ou de gado para carne.

“Fomos aqui pioneiros de turismo rural, com agricultura à séria, que não é só para turista ver”, sublinhou Jorge Rebelo de Almeida.

Na herdade turística e agrícola o grupo tem cerca de 300 trabalhadores, considerando que os problemas de falta de pessoal “melhoraram bastante, até com a entrada de muitos estrangeiros”, em particular de brasileiros, o que é sentido nas principais regiões turísticas, como o Algarve.

Neste campo, Jorge Rebelo de Almeida fez advertências relativamente ao problema da falta de habitação que assola o país, frisando que “corremos o risco de voltarmos a ter barracas em Portugal”.

“Com estes imigrantes todos que estão a chegar, nepaleses ou indianos, ao perceberem que não conseguem ter casa, começarão a arranjar soluções”, e o mais natural é um cenário de “construção de barracas”, afirmou o presidente da Vila Galé.

“Não é só receber pessoas de fora porque precisamos delas, temos de criar condições para as receber”, sublinhou o presidente do grupo hoteleiro, frisando, no seu caso, estar “a criar condições para alojamento do pessoal” e ter criado a Fundação Vila Galé “não para enriquecer os acionistas, mas para os nossos colaboradores terem condições de acesso a habitação”.

Com o aumento de imigrantes a chegar a Portugal, Jorge Rebelo de Almeida deixou um recado final ao Governo, no sentido de lançar rapidamente projetos de habitação social, enfatizando que “já não vivemos no tempo dos bidonvilles”.

Fonte: Jornal Expresso, jornalista Conceição Antunes