A relação Brasil e Portugal se desapega de um passado colonizador para, juntos, produzirem os melhores vinhos do mundo
Coluna Paulo Navarro
Fado Tropical
Desde o “achamento” do Brasil, vivemos uma relação de amor e ódio, inveja e inconfidência com Portugal, a “Terrinha”. Mas quem diria; santa ironia! O Brasil, outrora colonizado e explorado por Portugal, há muito e principalmente hoje, inverte o jogo. Mesmo com todas as mazelas herdadas. Somos um país extremamente rico e eternamente desperdiçado. Portugal continua geograficamente pequeno, vivendo e revivendo glórias passadas; salvando-se com o Turismo e, entre outros países, do dinheiro dos brasileiros ricos. Uma colonização ao contrário.
Samba português
Em seu belo “Fado Tropical”, Chico Buarque, anestesiado pela Revolução dos Cravos, sonha ou delira com um Brasil socialista que nunca existiu, nem existirá. Será? O que será que será? Entre outras, Chico canta que o Brasil ainda “vai cumprir seu ideal. Ainda vai tornar-se um imenso Portugal!”. Sem esquecer que “todos nós (brasileiros) herdamos, do sangue lusitano, uma boa dosagem de lirismo, além da…, claro”. Naquela época terrível havia censura e não podíamos escrever, sífilis, claro.
Samba do euro
Sonhando “com avencas na caatinga, alecrins no canavial, licores na moringa, um vinho tropical e a linda mulata, com rendas do Alentejo”, Chico queria que o Brasil “cumprisse seu ideal, tornando-se um imenso Portugal”. Pelo jeito, o que vemos é Portugal tornar-se um pequeno Brasil, sem lirismo e, ainda bem, sem sífilis. Mas e a dengue? E a miséria, a corrupção e metade da população sem água e esgoto? Difícil! E não queremos isso para Portugal, mas o contrário.
Samba do Fado
O Brasil está devolvendo a Portugal o contrário, com nosso do bom e do melhor. Investimentos, dinheiro e progresso. Mas lembremos que não existe almoço de graça, ainda mais almoço com vinho! Vinhos portugueses, produzidos por brasileiros e vencedores mundiais. Vingança sutil: eles plantaram cana, nós plantamos uvas; fazemos cachaça aqui e vinhos maravilhosos lá.
Fado Mineiro
Se com São Paulo, perdemos muito com a pseudo Política do Café com Leite, onde quem mandava de verdade eram os paulistas, agora vemos, finalmente, o inusitado e uma parte da profecia de Chico Buarque se realizar: “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um império colonial!”. Temos agora a Política do Vinho com Bacalhau. Vinho produzido por mineiros e bacalhau que nem português é, mas norueguês.
Mineiro e Português
Mineiros brilham na produção de vinhos em Portugal. A “Horizonte Ilimitado”, produtora dos vinhos “Domínio do Açor” e a “Menin Wine Company” foram destaques absolutos nas revistas especializadas de Portugal. Já dissemos aqui, que a Menin foi agraciada como o melhor vinho “rosé” de Portugal, em 2023, no Festival Essência do Vinho, no Porto, e melhor produtor daquele país no mesmo ano, segundo a revista “Grandes Escolhas”.
Português e Brasileiro
Acrescentamos, agora, que o vinho branco da casta bical do “Domínio do Açor”, também “from Brazil in Portugal” foi escolhido entre os melhores brancos do país no ano de 2023 pela Revista de Vinhos, enquanto as castas, encruzado e cerceal, foram destaques na revista “Grandes Escolhas”, que também agraciou a “Horizonte Ilimitado” como produtor revelação de 2023 em Portugal.
Publicado originalmente em https://paulonavarro.com.br/paulo-navarro/terca-12-de-marco-de-2024/?preview.